Cardápio Literário

Enquanto buscava temas sobre livros e literatura para trazer aqui no blog, deparei-me com uma matéria da BBC como ler transforma o cérebro (https://www.bbc.com/portuguese/articles/c89el24p358o). Ao mesmo tempo, o ChatGPT me sugeria ideias de postagens, entre elas, dicas para ler mais. Mas eis o ponto: mais nem sempre é melhor.

Num primeiro momento, incentivar a ler mais parece óbvio, afinal o brasileiro lê pouco. De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura de 2024 realizada pelo Instituto Pró-livro o brasileiro lê, em média, cerca de 4 livros no ano.  Deixo aqui o link para quem quiser conferir os dados completos: (https://www.prolivro.org.br/wp-content/uploads/2024/11/Apresentac%CC%A7a%CC%83o_Retratos_da_Leitura_2024_13-11_SITE.pdf

É claro que buscar formas de ler mais faz sentido. No entanto, se quisermos realmente aproveitar os benefícios da leitura, precisamos olhar também para o que estamos lendo, não apenas para quanto.

Vamos fazer uma analogia com a alimentação: não basta atingir a meta de calorias diárias para manter o corpo funcionando. É fundamental pensar na qualidade dessas calorias, ou seja, na sua origem. O mesmo vale para os livros — é necessário encontrar um equilíbrio entre quantidade e qualidade.

Nessa matéria da BBC que me inspirou a escrever esse texto, uma das entrevistadas comenta que a capacidade de leitura profunda está se perdendo. Isso não quer dizer que você deva se limitar a clássicos ou obras aclamadas pela crítica, mas sim buscar leituras que desafiem seus hábitos e ampliem seus horizontes.

Como leitora já tive minha fase de glutonice, em que devorava romances de banca de jornal sem parar. Hoje em dia minha guloseima diária são quadrinhos (tema para outro post!). Mal terminava um e já emendava o livro seguinte. Com esses romances – leves e divertidos – isso é fácil. A fórmula está pronta, sabemos para onde o barco vai, e a leitura exige pouco esforço do leitor..

Então estou propondo aqui uma reeducação literária:

Experimente gêneros diferentes

Se você está começando, teste até encontrar algo que prenda sua atenção e dialogue com seus gostos ou com a sua realidade. Se já tem o hábito de ler, que tal alternar uma leitura confortável com outra mais desafiadora?

Encontre o seu ritmo

O fato de o brasileiro ler pouco não significa que você precisa devorar 40 livros por ano para compensar. Encontre o seu próprio ritmo, assim como faria com exercícios físicos. Nem todos precisam correr uma maratona; às vezes, uma caminhada consistente já é um ótimo começo. Vai do fôlego de cada um, mas se você não digere o que lê, talvez seja melhor diminuir o ritmo. Então proponho aqui para quem não lê ou lê pouco, entre 6 a 12 livros no ano. Se você é leitor, 6 a 12 livros fora da sua zona de conforto.

Apoie-se em grupos

Falta disciplina? Busque um clube do livro. Além do incentivo coletivo, você terá com quem conversar sobre as leituras, e poderá descobrir obras que talvez nunca leria por conta própria.

Saboreie cada leitura

Nem toda leitura exige o mesmo apetite. Alguns livros são como fast food — rápidos, leves, fáceis de consumir. Outros pedem uma degustação mais lenta, com direito a pesquisa sobre o contexto histórico, cultural ou até a edição escolhida. Notas do tradutor, textos de apoio e comentários críticos podem transformar sua leitura em uma verdadeira experiência de aprofundamento. Isso não faz de você um leitor “melhor”, mas sim mais consciente e atento.

O mais importante de tudo: não desista da leitura. Ler não é algo natural como andar. É complexo. Cada palavra desperta uma série de reações no cérebro, decodificando símbolos em palavras, sons e uma série de ideias que variam conforme a experiência de vida de cada leitor. Exige esforço sim, mas possibilita expressar melhor ideias e sentimentos, ter pensamentos mais complexos e entrar em contato com ideias e culturas diferentes.

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